Nem sempre digo as coisas da melhor maneira, não gosto de ouvir um não, sou resmungona irritante e perco-me facilmente em divagações sobre o porquê disto e daquilo, sobre a vida e sobre os momentos que muitas vezes ficam por explicar.
Sou rebelde no sentido puro da palavra, não gosto de regras. Repugno a rotina e sou amante do espontâneo do real e também do sonho. Sou pouco e às vezes quase nada em comparação com o que penso e sinto. A matéria, isto que vocês vêm nada é que eu não saiba ignorar, ultrapassar. Rendo-me ao abraço de um desconhecido e firo-me facilmente com as palavras de um amigo.
Sou inconstante incoerente e muitas vezes sentimental, choro e torno a chorar como quisesse competir com os oceanos. Grito também, e quando as lágrimas e os gritos se esgotam rio à gargalhada como se a razão do choro se apagasse na sonoridade da alegria. Sou poeta de papel nas horas vagas e poeta de coração na vida. Vejo beleza onde as pessoas vêem objectos e figuras, vejo o belo no escuro, e o escuro mais belo de sempre, quando fecho os olhos e posso sonhar.
Quero tudo e mais alguma coisa, não de concreto mas feito de fantasias e desejos, quero ser mais e mais e nem sempre o mais se alcança. Não sou insatisfeita, antes pelo contrário, as pequenas alegrias como de uma manhã de sol são mais que suficientes para me por a sorrir. Gosto de observar as pessoas, de as entender, gosto de tocar, sentir. Apesar de estar sempre a falar, sempre achei que não é com a boca que realmente se fala. Eu falo com as mãos, com olhos, com o corpo.
Nunca fui de me agarrar, odeio sentir-me presa. Gosto da liberdade do querer e fazer, da independência dos actos não pensados, da surpresa, da libertação. Gosto da fuga, dos momentos que queremos que durem e passam a correr enquanto nós os tentamos agarrar. Gosto de amar, gosto mas sem limites, sem regras, sem pensamento. Gosto de amar mesmo se não o for de volta. Gosto do cheiro da luz da presença do amor. Mas quando me prendem eu fujo.
Sou simplesmente assim, cheia de camadas que se sobrepõem indefinidamente. Cheia de marcos e marcas, e ainda espaços por escrever. Fecho-me e abro-me tantas vezes quanto o bater de umas asas. Sou inquieta e raramente permaneço. Sou explosão e logo a seguir aquela paz que ninguém compreende.
Acima de tudo, sou real, estou aqui e sempre estarei porque como já disse pretendo permanecer. Não tentem compreender-me, não tentem estudar-me, decifrar-me, levem-me com vocês e eu serei sempre o melhor de mim, porque vos amo.
Wednesday, May 11, 2011
...
Procurei o sol.
Nele vieram dias, momentos e emoções felizes, veio a esperança, a verdadeira simplicidade das situações inexplicáveis que nos prendem apenas àquele presente. Queria tudo e o sol cumpria cada um dos meus desejos, era fácil, bastava-lhe brilhar e logo os meus olhos respondiam a cada reflexo, a cada movimento de rotação da terra, nós rodávamos também. Numa roda de desejos, corpo contra corpo, mente contra mente, coração sobre coração, nisso ambos sabíamos ser um para o outro, um brilho não apagava o outro, apesar da distância inconclusiva que nos separava, havia um ponto em que nos podíamos encontrar sempre, todos os dias no pico da madrugada e antes do anoitecer, ele descia à Terra e eu corria ao seu encontro livre, espontaneamente e sem hesitar.
Não pensávamos no futuro. Para quê fazê-lo? Havia apenas a certeza de que todos ”os nasceres e pores” do dia bastavam, eram todos momentos, os únicos momentos em que não duvidávamos de nada
Mas a noite sempre vinha.
E eu ficava sozinha, vinha o escuro e as dúvidas e a incoerência de pensamentos que me faziam, não ter certezas sobre o sol. Tão distante, tão perto e no fundo tão longe. Uma barreira física e imortal de razões nos separavam de tudo aquilo que nos unia em todas aquelas alturas do dia. Era noite, e na escuridão senti-me só pela primeira vez. A Lua tentava fazer-me companhia, aguentar-se comigo até ao amanhecer. Mas eu apenas fechava os olhos, porque a melhor maneira de enfrentar a escuridão, era através do meu querer, torná-la total.
Os dias e as noites seguiam-se, e os o amanheceres eram tão ou menos suficientes, que cada vez que a noite chegava. Os desejos eram substituídos pela necessidade de ter, pelo precisar de cada sensação fora da horas, viver cada emoção de cada vez tornou se doloroso, ter o sol mas não ter deixou de ser suficiente.
Mas quem podia imaginar algo diferente? O Sol, só no seu nome era tudo menos de alguém, era o brilho para todos e sempre seria assim, e eu poderia sempre amá-lo poderia sempre olhá-lo todos os dias, vê-lo e senti-lo como toda a gente o sentia, e o calor bastava. O Sol nunca poderia ser meu, e eu nunca poderia querer ser dele.
O Sol apenas se entregava à Lua, de anos a anos, noite e dia, um eclipse único, uma entrega total.
Nele vieram dias, momentos e emoções felizes, veio a esperança, a verdadeira simplicidade das situações inexplicáveis que nos prendem apenas àquele presente. Queria tudo e o sol cumpria cada um dos meus desejos, era fácil, bastava-lhe brilhar e logo os meus olhos respondiam a cada reflexo, a cada movimento de rotação da terra, nós rodávamos também. Numa roda de desejos, corpo contra corpo, mente contra mente, coração sobre coração, nisso ambos sabíamos ser um para o outro, um brilho não apagava o outro, apesar da distância inconclusiva que nos separava, havia um ponto em que nos podíamos encontrar sempre, todos os dias no pico da madrugada e antes do anoitecer, ele descia à Terra e eu corria ao seu encontro livre, espontaneamente e sem hesitar.
Não pensávamos no futuro. Para quê fazê-lo? Havia apenas a certeza de que todos ”os nasceres e pores” do dia bastavam, eram todos momentos, os únicos momentos em que não duvidávamos de nada
Mas a noite sempre vinha.
E eu ficava sozinha, vinha o escuro e as dúvidas e a incoerência de pensamentos que me faziam, não ter certezas sobre o sol. Tão distante, tão perto e no fundo tão longe. Uma barreira física e imortal de razões nos separavam de tudo aquilo que nos unia em todas aquelas alturas do dia. Era noite, e na escuridão senti-me só pela primeira vez. A Lua tentava fazer-me companhia, aguentar-se comigo até ao amanhecer. Mas eu apenas fechava os olhos, porque a melhor maneira de enfrentar a escuridão, era através do meu querer, torná-la total.
Os dias e as noites seguiam-se, e os o amanheceres eram tão ou menos suficientes, que cada vez que a noite chegava. Os desejos eram substituídos pela necessidade de ter, pelo precisar de cada sensação fora da horas, viver cada emoção de cada vez tornou se doloroso, ter o sol mas não ter deixou de ser suficiente.
Mas quem podia imaginar algo diferente? O Sol, só no seu nome era tudo menos de alguém, era o brilho para todos e sempre seria assim, e eu poderia sempre amá-lo poderia sempre olhá-lo todos os dias, vê-lo e senti-lo como toda a gente o sentia, e o calor bastava. O Sol nunca poderia ser meu, e eu nunca poderia querer ser dele.
O Sol apenas se entregava à Lua, de anos a anos, noite e dia, um eclipse único, uma entrega total.
Um rosto na estação
7h30 e mais uma manhã de loucura nos comboios de Lisboa, não vejo rostos, vejo caras removidas de expressão, marcadas pela rotina, pela eterna insatisfação de um dia-a-dia que se prolonga e se perde na brisa gélida que traz um novo amanhecer.
É um novo dia, e com este não vieram coisas novas, nem emoções, nem projectos nem a satisfação de um simples sorriso. Na estação milhares de pessoas se cruzam alheias ao que as rodeia, como máquinas percorrem um caminho que já não conhecem, que decoraram na esperança de lembrar e esquecer se assim o desejarem. Já não se conhecem, não têm espaço para o fazer, perdidas em memórias vazias, sem substância, sem verdadeiro conteúdo. Prisioneiros do seu próprio silêncio.
O barulho é imenso, e no entanto nada se diz. As palavras memorizadas forçam a sua saída e no entanto soam a pouco.
Faltam 15 dias para o Natal, e as pessoas estão vestidas de preto. A televisão preenchida de anúncios, apelando ao consumismo e ignorando a essência da ocasião, não é mais do que um espelho da estação dos comboios. Em que ponto da nossa história deixámos de querer saber?
As ruas de Lisboa enchem-se de luzes e cantos se ouvem, mascarando os rostos, inventando uma alegria à muito esquecido.
Em cada esquina um canto, em cada canto um rosto, um verdadeiro rosto suplicando por uma esmola, pedindo ajuda. Mas as caras não respondem, submersas no seu mundo da estação dos comboios, esquecendo-se de si mesmos, dos outros, e do quanto eles também, necessitam de ajuda.
É um novo dia, e com este não vieram coisas novas, nem emoções, nem projectos nem a satisfação de um simples sorriso. Na estação milhares de pessoas se cruzam alheias ao que as rodeia, como máquinas percorrem um caminho que já não conhecem, que decoraram na esperança de lembrar e esquecer se assim o desejarem. Já não se conhecem, não têm espaço para o fazer, perdidas em memórias vazias, sem substância, sem verdadeiro conteúdo. Prisioneiros do seu próprio silêncio.
O barulho é imenso, e no entanto nada se diz. As palavras memorizadas forçam a sua saída e no entanto soam a pouco.
Faltam 15 dias para o Natal, e as pessoas estão vestidas de preto. A televisão preenchida de anúncios, apelando ao consumismo e ignorando a essência da ocasião, não é mais do que um espelho da estação dos comboios. Em que ponto da nossa história deixámos de querer saber?
As ruas de Lisboa enchem-se de luzes e cantos se ouvem, mascarando os rostos, inventando uma alegria à muito esquecido.
Em cada esquina um canto, em cada canto um rosto, um verdadeiro rosto suplicando por uma esmola, pedindo ajuda. Mas as caras não respondem, submersas no seu mundo da estação dos comboios, esquecendo-se de si mesmos, dos outros, e do quanto eles também, necessitam de ajuda.
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