Wednesday, May 11, 2011

Um rosto na estação

7h30 e mais uma manhã de loucura nos comboios de Lisboa, não vejo rostos, vejo caras removidas de expressão, marcadas pela rotina, pela eterna insatisfação de um dia-a-dia que se prolonga e se perde na brisa gélida que traz um novo amanhecer.
É um novo dia, e com este não vieram coisas novas, nem emoções, nem projectos nem a satisfação de um simples sorriso. Na estação milhares de pessoas se cruzam alheias ao que as rodeia, como máquinas percorrem um caminho que já não conhecem, que decoraram na esperança de lembrar e esquecer se assim o desejarem. Já não se conhecem, não têm espaço para o fazer, perdidas em memórias vazias, sem substância, sem verdadeiro conteúdo. Prisioneiros do seu próprio silêncio.
O barulho é imenso, e no entanto nada se diz. As palavras memorizadas forçam a sua saída e no entanto soam a pouco.
Faltam 15 dias para o Natal, e as pessoas estão vestidas de preto. A televisão preenchida de anúncios, apelando ao consumismo e ignorando a essência da ocasião, não é mais do que um espelho da estação dos comboios. Em que ponto da nossa história deixámos de querer saber?
As ruas de Lisboa enchem-se de luzes e cantos se ouvem, mascarando os rostos, inventando uma alegria à muito esquecido.
Em cada esquina um canto, em cada canto um rosto, um verdadeiro rosto suplicando por uma esmola, pedindo ajuda. Mas as caras não respondem, submersas no seu mundo da estação dos comboios, esquecendo-se de si mesmos, dos outros, e do quanto eles também, necessitam de ajuda.

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